Bolsonaro em disputa com a atual direção do PSL e tem o apoio de um grupo de 23 parlamentares, acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para afastar o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), seu agora desfeto, da presidência do partido
O presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado (2) que é “uma menina bonita sem namorado”, ao comentar a possibilidade de deixar o PSL e migrar para o Partido Militar Brasileiro. Bolsonaro trava uma disputa com a atual direção do PSL e, com o apoio de um grupo de 23 parlamentares, acionou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para afastar o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE) do comando da sigla.
Conforme o jornal O Estado de S. Paulo informou neste sábado, Bolsonaro enviou emissários para saber se o Partido Militar Brasileiro pode ser o seu destino, caso decida deixar a legenda pela qual foi eleito. A nova sigla é articulada pelo coordenador da bancada da bala, deputado Capitão Augusto (PL-SP), e está em fase final de criação, aguardando apenas o aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Um dos emissários foi o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF), ex-coordenador da bancada da bala e amigo pessoal de Bolsonaro. Há duas semanas, ele procurou o deputado do PL por telefone para saber o que faltaria para colocar a nova legenda de pé. “Sou menina bonita sem namorado. Fico muito feliz em ter vários convites”, disse o presidente a jornalistas, ao deixar o Palácio da Alvorada.
Bolsonaro falou com a imprensa antes de ir a uma concessionária da Honda, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), em Brasília, a 14 quilômetros da residência oficial, para buscar a moto que comprou. O modelo adquirido pelo presidente é uma Honda NC 750X azul. O preço de mercado é R$ 33.980,00, segundo o site oficial da marca.
O pedido de criação do Partido Militar Brasileiro foi protocolado na Corte Eleitoral em fevereiro de 2018, após Augusto cumprir todas as etapas para o registro – coletar ao menos 491,9 mil assinaturas em, no mínimo, nove estados, preparar estatuto e programa partidário e realizar ato de fundação. Até hoje, porém, o TSE não definiu um relator para a solicitação e não há prazo para que isso ocorra.
Um interlocutor do presidente disse reservadamente à reportagem que “em breve saberemos” a decisão do presidente.
“Três oitão”
Embora o pedido de criação tenha sido apresentado no ano passado, o Partido Militar Brasileiro foi fundado em 2011. A mulher de Augusto, Andréa França, é quem assina a primeira ata. Ao TSE, o deputado pediu que o número de urna seja o 38, em referência ao calibre do revólver mais conhecido do país – o “três oitão”.
Diante de declarações do clã Bolsonaro favoráveis ao período da ditadura militar, Augusto fez questão de refutar a associação do partido com o regime. No próprio documento protocolado no TSE, ele ressalvou que “muitos lançarão acusações” de que a legenda representaria a volta do período militar. “Na verdade, esse discurso é retrógrado e ideologicamente encobre a real intenção daqueles que têm medo de serem desmascarados e desmantelados no seu projeto de usurpação das riquezas do povo brasileiro”, diz o documento.
Curiosamente, o estatuto repete uma prática comum do PT, a principal sigla de oposição a Bolsonaro. Exige dos filiados com mandato ou que exerçam cargo público uma contribuição obrigatória, que pode chegar a 10% dos rendimentos.
Explicações
Nesta semana, o Ministério Público Eleitoral pediu explicações ao PSL sobre as suspeitas de “indícios de ilegalidades” na movimentação do dinheiro do partido levantadas pelo presidente Jair Bolsonaro e um grupo de parlamentares à Procuradoria Geral da República. Bolsonaro acionou na última quarta-feira, 30, a PGR pedindo o bloqueio do fundo partidário de seu partido e o afastamento do presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE), do cargo em “nome da transparência”.
A disputa entre Bivar e Bolsonaro opõe dois ex-ministros do TSE: Admar Gonzaga (amigo pessoal de Bolsonaro, que já se referiu ao advogado como “meu peixe”) e Henrique Neves (que está prestando assistência jurídica ao partido). Fontes que acompanham o caso informaram o Estado/Broadcast que não há precedente de afastamento de presidente de partido pelo TSE, e sim de suspensão e bloqueio de recursos do Fundo Partidário.