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NEM TÃO LONGE DAQUI – Por Angeli Rose

“Ainda estou aqui” é a frase marcante da espera que milita a esperança.

NEM TÃO LONGE DAQUI

Angeli Rose

(…)Porque eu sou do tamanho do que vejo
e não do tamanho da minha altura…
(Fernando Pessoa)


Começar o ano com o presente do prêmio “GLOBO DE OURO” para uma atriz brasileira ,na
categoria de atuação, foi um início esplendoroso.
De alma lavada foi possível passar a semana,a despeito da certificação de Donald Trump e da
posse forjada de Nicolas Maduro.
Era pra sentir que nós também ganhamos ao lado dela,Fernanda Torres.Mais do que isso,
foram as mulheres, os artistas de modo geral, brasileiros e todos que sentem o comichão da
esperança aliada a uma vitória.
Os trocadilhos foram inevitáveis com o título da obra,o filme “Ainda estou aqui” . Mas pode-se
pensar que apesar da ausência e do inacabamento da situação dramática da família Paiva
,com o sequestro do deputado Federal Rubens Paiva,sua presença tornou-se uma constante
na memória coletiva.
Assim, ainda estar aqui traz uma lentidão em relação à passagem do tempo,sugerida pelo título
do filme. Lentidão necessária para que a reflexão seja plantada em cada um que vir o filme.
“Ainda estou aqui” dá a ver o quanto nossa Democracia é frágil e está ameaçada
constantemente. Por outro lado, essa mesma Democracia é capaz de explodir em festivais e
salas de cinema com a delicadeza do recado potente que a Arte é capaz de elaborar :
Olhem,ainda estamos aqui,apesar do que passamos e nos fizeram…
Ao mesmo tempo, o espectador é incitado a sentir(-se) ante o drama que lhe é apresentado e a
história contada, que ambos,filme e história, podem permanecer nele
prolongadamente,gerando a possibilidade de transformação de consciência. Aí é o ponto
crucial : um “efeito estufa” no interior do contemplador sensível à obra de arte.
“Ainda estou aqui” é a frase marcante da espera que milita a esperança. E militar é ação,
portanto, nada tem a ver com passividade diante dos fatos,como a vida de Eunice Paiva
testemunha.
Num mundo de incertezas e indeterminações,como o que vivemos, proferir esta frase naquele
contexto do filme sobre o sequestro,a prisão e o assassinato de Rubens Paiva é promulgar a
certeza e o pertencimento,necessários à gravidade da história brasileira naquele período. É
resistência à rapidez que o esquecimento quer impingir.
A história da aldeia brasileira, passada no bairro da Urca do Rio de Janeiro, tornou-se maior
que o Rio e ganhou o mundo. A história contada,muito bem recontada por Walter Salles,o
diretor do filme, ganhou força com a competência de Fernanda Torres,elenco e de toda equipe.
E a “mega sena” acumulada, segundo Fernandinha,dada a outra possibilidade de premiação
que não vingou com Fernanda Montenegro, 25 anos depois mostrou que as duas ainda
estavam ali, impávidas e novidadeiras nos percursos, para celebrar a hora exata,não sabemos
se certa, do reconhecimento pelo trabalho incansável de criar e atuar.

Por isso e por muito mais certamente, o filme com o prêmio “Globo de Ouro”(e outros que
virão) dá a ver o nosso país com tantas contradições, ao mesmo tempo que é visto daqui,de
dentro de cada um.
Não só a Internet encurta distâncias, com as redes sociais por exemplo, mas também a Arte é
capaz de fazê-lo
“Ainda estou Aqui” entra para a historiografia do cinema como a ponte que deixa ver e é vista.

Angeli Rose é colunista de jornais digitais, Presidente do INSTITUTO
INTERNACIONAL CULTURA EM MOVIMENTO, fundadora do COLETIVO
MULHERES ARTISTAS, carioca, geminiana. Adora viajar, ler e praia.
Professora de Literatura, pesquisadora há mais de 25 anos. Recebeu
recentemente a Medalha de Reconhecimento Chiquinha Gonzaga da Câmara
Municipal do Rio de Janeiro, além de uma Moção de Aplausos e Louvor da
mesma “casa do povo”. Com alegria, é Embajadora Cultural das feiras virtuais
do livro, organizadas pela Confederación Del Libro Peru,entre outras atividades
e funções que exerce na cena cultural com espírito de colaboração.

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One Reply to “NEM TÃO LONGE DAQUI – Por Angeli Rose

  1. Parabéns pelo excelente artigo.
    Já era hora de ganhar algum prêmio.
    Sem contar que, ainda, lavou a alma da mãe, outra fera.

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